TURISMO E OS SETORES DA ECONOMIA
Não tenho certeza de quando foi a primeira vez em que ouvi ou li que o “Turismo envolve 52 setores da economia”. A expressão, repetida em muitos documentos escritos em Língua Portuguesa, aparece em dissertações de mestrado, teses de doutorado, artigos com diversos enfoques, e quase todos os discursos políticos dos últimos anos.
Comecei a pesquisa nos textos em Inglês, pois muito do que se produziu no Brasil tem fundamentação elaborada fora do país e… nada. Fui para o Espanhol, e também nada. O uso da expressão é recorrente somente no Brasil. Daí para concluir que foi um número escolhido aleatoriamente, como tantos outros, não demorou.
O mais próximo que apareceu foram os 54 itens de uma matriz insumo-produto que o IBGE elaborou ainda no tempo em que não existia Ministério do Turismo. Estes 54 itens, com alguns agregados e outros desagregados, são itens padrão para composição da matriz e não exatamente itens da economia do turismo. O próprio IBGE, por sua vez, recorre aos modelos internacionais para elaborar seus índices, e com isso trabalha com 9 ACTs ou Atividades Características do Turismo (que contemplam 37 CNAEs).
Mas afinal, quantos são os tais setores?
Para além da clássica divisão entre primário, secundário e terciário, a economia brasileira é composta por diferentes atividades econômicas que se integram, em maior ou menor escala, para compor os diferentes setores (como os conhecemos) — por exemplo construção civil, tecnologia, serviços de saúde, entre outros.
Acessando novamente o IBGE, é possível verificar que o Instituo classifica todas as atividades econômicas no Brasil por meio da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). A Resolução Concla 01/2013, publicada no Diário Oficial em 26/09/2013 apresentou a CNAE-Subclasses 2.2, válida atualmente e base para ação da Administração Pública.
A análise da planilha CNAE-Subclasses 2.2 permite compreender que hoje, no Brasil, existem 1329 atividades econômicas, divididas em 21 Seções.
Para verificar quais são as atividades relacionadas ao Turismo, o critério selecionado foi a relação com o dinheiro gasto por um turista ao longo do processo da viagem (decisão, compra, viagem, retorno ao lar). Desta forma, especialmente quando se pensa na entrada de turistas estrangeiros, fica mais claro o estímulo ao desenvolvimento econômico.
As categorias estabelecidas foram:
Definidas as categorias, passou-se à distribuição das 1329 atividades econômicas, obtendo resultados que deixam no passado a afirmação dos 52 setores. Diretamente relacionados ao turismo tem-se 21 atividades, que se somam a 191 compartilhadas, 142 indiretas e, em situações de mercado aquecido, outras 217 se beneficiarão, totalizando 571 setores com envolvimento, ou seja, 11 vezes mais do que o que se repete aleatoriamente nos textos e discursos. Na tabela e nos gráficos abaixo é possível perceber a representatividade do setor.
Ao dimensionar-se o setor com critérios claros totalmente baseados em documentos oficiais que fundamentam análises econômicas no Brasil, é possível retomar os esforços de comparação e verificação de sua expressividade econômica, seja pela mensuração das receitas operacionais, movimentação econômica ou geração de empregos. Um passo inicial importante está dado — e, a partir dele, outros se seguirão.
Referências:
IBGE. Classificação Nacional de Atividades Econômicas — Subclasse para uso da Administração Pública — versão 2.2. Disponível em https://cnae.ibge.gov.br/classificacoes/por-tema/atividades-economicas/subclasses-da-cnae-2-2. Último acesso em setembro de 2018.
IBGE. Economia do Turismo. Atividades Características do Turismo. Disponível em https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/economia_tur_20032009/default.shtm. Último acesso em setembro de 2018.