Salvem os universitários

Publicado originalmente no blog Ensinando Turismo (Panrotas) em 14/08/2016.

A expressão “peça ajuda aos universitários” recebeu novo significado depois do programa Show do Milhão, liderado por Silvio Santos no SBT. Em diversas ocasiões, pedir ajuda aos universitários implicava na certeza de uma resposta equivocada.

Recentemente, o editor chefe da Panrotas, Artur Andrade, fez um post indicando que estamos, sempre, em transição. Encerra o texto questionando aspectos da formação superior para atuação nos diversos segmentos do turismo. Desde que conheço o Artur, essa é uma de suas perguntas mais sérias e que segue sem resposta que o satisfaça. Ainda bem.

A verdade é que a formação superior em turismo é, no mínimo, uma comédia. Tão comédia quanto a gestão pública do turismo no Brasil. Diria até que são muito similares. A maior parte das pessoas que responde pela coordenação e condução de cursos na área nunca (destaque-se NUNCA) atuou na área. Da mesma forma que pedem para que o próximo ministro tenha experiência na área, deveriam fazer assim também para os professores.

Há dez anos na USP, como professora, e tendo sido aluna da mesma universidade em graduação, mestrado e doutorado (num total de 11 anos e meio) posso afirmar que, se o aluno confiar somente em seus professores, ele vai ser, no máximo, um outro professor medíocre. À revelia da coleção de antiguidades que tem que estudar e reproduzir, os alunos se aventuram no mercado, em estágios e empregos mal pagos. E se esforçam em trazer sua experiência para dentro de sala de aula, quando assim a autoridade docente permite.

Como quase tudo nesse país, quem vai liderar a mudança são os empresários audaciosos, jovens (de corpo e/ou espírito), que vão apostar nos alunos acreditando mais em seu potencial do que no conhecimento que ele trará do tempo investido em sala de aula. E aí vai ensiná-lo a cobrar adequadamente, e criará uma pressão coletiva de alunos que sabem que merecem melhores aulas, conteúdos mais recentes, debates mais aprofundados.

Se ainda há professores dizendo que não há necessidade de se falar inglês, que os autores brasileiros explicam o turismo internacional, que teorias do século passado dão conta do comportamento do consumidor moderno, pense que nem sempre a culpa é dos alunos. Muitas vezes eles são obrigados a acreditar nos absurdos que foram transformados em verdades inquestionáveis.

Só vão aprender, de verdade, quando mais gente apostar no talento e na disposição de quem escolheu a área, mesmo que o desafio seja superar as barreiras das muitas teias de aranha…