Desafios diários

Mariana Aldrigui, Dr.
3 min readJun 25, 2023

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Dia Internacional da Mulher

Publicado originalmente em Brasilturis 870 — página 20 — Março de 2023.

Recentemente, fui convidada para assumir uma das gerências da Embratur, agência dedicada à promoção internacional do Brasil como destino turístico, e meu papel será o de coordenar a equipe responsável pelas pesquisas e análise de dados que subsidiarão as diferentes estratégias da agência e de seus profissionais.

A equipe, já bastante elogiada em sua composição, preza pela diversidade — e como nossa pauta é especificamente a diversidade de gênero, não há dúvidas que esse aspecto foi levado em consideração desde o início.

Entretanto, para poder assumir este desafio, foi necessário me afastar de duas funções relevantes que ocupava — a de professora e pesquisadora na EACH/USP e da presidência da FecomercioSP. E mesmo que seja um movimento temporário, meu afastamento diminui o volume de mulheres nas duas esferas — no curso de Lazer e Turismo, e nos conselhos da Federação.

Aos que não se aprofundam no tema, não se trata de não existirem mulheres disponíveis para ocupar as posições — elas existem, são tão ou mais competentes, porém já estão com suas agendas tomadas de compromissos. E nem sempre é simples orquestrar uma mudança em tão pouco tempo.

Há um desafio maior se desenhando no horizonte, e matérias jornalísticas recentes já nos dão indicativos de que será necessário rever uma série de padrões. As empresas brasileiras mais alinhadas aos movimentos internacionais já se estruturam com horários flexíveis, trabalho híbrido, avaliação por projetos concluídos e resultados, e pelo nível de bem estar coletivo. São poucas ainda, mas estão definindo um modelo que em breve será seguido.

Ao mesmo tempo, mulheres em posição de muito destaque estão sinalizando que a busca do equilíbrio e da realização em esferas que não somente a profissional tem peso, e devem ser respeitadas — o que foi brilhantemente relatado por Jennifer Liu em sua matéria para a CNBC. A CEO do YouTube Susan Wojcicki está deixando a empresa para começar um novo capítulo focado em família, saúde e projetos pessoais ligados ao meu propósito. Marne Levine, da Meta, também sai da companhia, seguindo os passos de Shery Sandberg e Carolyn Everson.

Na esfera política, Jacinda Ardern encerra seu termo na Nova Zelândia e Nicola Sturgeon renunciou ao cargo depois de oito anos como primeira ministra, alegando que é necessário dar espaço a outras pessoas e reequilibrar suas prioridades.

Tais movimentos não me decepcionam. Ao contrário, me inspiram e me mostram que os melhores resultados vêm de pessoas que estão em equilíbrio e que conseguem, graças às redes que se formam, garantir que todos ao seu redor também estejam. A ilustração atávica de que o homem mantem um único foco enquanto a mulher cuida do entorno e protege a prole pode até fazer sentido, mas me agrada mais a ideia da construção de redes — times, equipes, grupos — em que o seu melhor aparece quando as condições para que você esteja bem são garantidas.

E para que possamos garantir mais condições, nossos desafios continuam sendo ampliar cada vez mais o espaço para mulheres. Já mencionei isso em outro texto, citando a Constanza Pascoalato — garantir diversidade passa por reforçar, mesmo que seja por meio de leis e regulações mais duras. Foi assim com o cinto de segurança, algo que preserva nossa vida e hoje mal conseguimos andar no carro sem que estejamos afivelados.

Temos, como setor, o dever de sermos diversos e de privilegiarmos a construção de vidas equilibradas, para que os resultados sejam sempre positivos.

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Mariana Aldrigui, Dr.
Mariana Aldrigui, Dr.

Written by Mariana Aldrigui, Dr.

Travel & Tourism specialist. Keynote speaker on T&T subjects. Tourism researcher at University of Sao Paulo (Brasil).

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